Terceira onda de calor do ano reacende debate sobre aquecimento global

O verão só termina no final de março, mas o Brasil vivencia no momento sua terceira onda de calor do ano, registrando temperaturas 5°C acima da média por dias consecutivos, reflexo de um bloqueio atmosférico que se instalou na região central do país.

Em sua edição de nº 9 (julho-setembro/2023), a Revista Crea-SP já antecipava a tendência em uma entrevista com o meteorologista Carlos Raupp, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), entidade que representa no Plenário do Crea-SP como conselheiro da Câmara Especializada de Agronomia – CEA.

“Eventos como esses refletem a tendência de ampliação da temperatura média do planeta, com um aumento mais acentuado nas últimas décadas. Isso colabora com a hipótese de que o aquecimento global tem se dado em resposta ao crescente aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera”, afirma Raupp.

Para o meteorologista, o aquecimento global é a provável causa do aumento da frequência e da amplitude de eventos climáticos extremos. “As mudanças climáticas associadas ao aquecimento global têm se caracterizado por mudanças nos padrões de precipitação, que, por sua vez, afetam a questão da disponibilidade hídrica”, diz.

Algumas estratégias já vêm sendo colocadas em prática para o cumprimento das metas definidas nos acordos internacionais do clima, como a substituição gradual da matriz energética atual, fortemente dependente da queima de combustíveis fósseis, por fontes renováveis; a substituição da frota veicular, utilizando-se veículos elétricos e de combustíveis renováveis; e o investimento em medidas de proteção dos biomas naturais de países em desenvolvimento.

Os profissionais da área tecnológica têm papel fundamental no debate e no desenvolvimento de soluções para fazer frente à crise climática. “O trabalho dos pesquisadores tem nos proporcionado uma nova visão do clima como um sistema complexo, caracterizado por interações envolvendo a atmosfera, a hidrosfera, a criosfera, a litosfera e a biosfera. Tudo isso somado a fatores econômicos, geopolíticos e sociais”, ressalta.

Nesse processo, o emprego de novas tecnologias vem sendo crucial para o alcance das metas de redução das emissões de gases do efeito estufa. “O profissional que atua no segmento também tem que ser capaz de interagir com outros de diferentes áreas de conhecimento, já que o avanço científico tornou essa ciência multidisciplinar, envolvendo interações entre o sistema natural e os sistemas econômicos/políticos/sociais”, avalia.

Mas nem tudo deve ficar nas mãos dos especialistas e dos órgãos governamentais: a população também pode colaborar. “Caronas solidárias, bem como o uso preferencial do transporte público e bicicletas, são formas de reduzir a quantidade de veículos em circulação e, portanto, contribuir com a redução das emissões. Evitar desperdícios de água e energia, reduzir o consumo de materiais não biodegradáveis, além da reciclagem dos resíduos, também são boas práticas individuais”, conclui Raupp.

Todas as edições da Revista Crea-SP podem ser acessadas aqui.