Texto técnico – Como são construídas as cidades?

Profissionais da área tecnológica atuam do planejamento ao desenvolvimento do espaço urbano e rural atendendo às demandas da sociedade

Basta resgatar algumas aulas de História para entender um pouco do processo evolutivo das cidades. A palavra, que, no dicionário, significa aglomeração humana em determinada área geográfica com moradia, cultura, comércio, produção e outras atividades pertinentes, tem tudo a ver com as Engenharias, Agronomia e Geociências.

No Brasil, a primeira cidade a ser formada foi São Vicente, no litoral paulista. Os arquivos históricos indicam seu surgimento como capitania em 1502, mas somente em 1532 houve a fundação oficial por Martim Afonso de Souza a mando do Rei de Portugal, Dom João III. Na época, foi necessária uma administração para a consolidação do município, apesar de o local já ser marcado pelo convívio de uma população. O que mostra que, ainda que o desenvolvimento urbano e rural aconteça de forma orgânica, é necessário planejamento.

É o que explica o conselheiro e o Meteorol. Ricardo Hallack, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP): “Antes as cidades cresciam sozinhas, sem estudo prévio, mas esse crescimento era revertido em problemas sociais com impacto direto no dia a dia das pessoas”, conta.

De acordo com o especialista, as principais demandas da atualidade, como as questões de infraestrutura, habitação, saneamento, gestão de resíduos e emergências climáticas são frutos desse progresso não planejado. “Muito do crescimento desordenado não tem como ser corrigido, pois depende de grande investimento financeiro, mas temos conhecimento técnico e tecnologia para planejar melhor os espaços e as cidades”, afirma.

Uma ferramenta citada por ele com potencial para isso é o monitoramento por satélite. “É uma tecnologia que está ficando cada vez mais acessível para monitorar poluentes, uso e ocupação do solo, áreas de vegetação em comparação ao crescimento urbano, entre outras aplicações”, comentou. O modelo tem uso viável para acompanhar o desenvolvimento das cidades, pois auxilia na antecipação de demandas com dados reais e vivos para a tomada de decisão das ações de infraestrutura.

Organização que possibilita o desenvolvimento

Se, em termos de população, a expectativa para os municípios é de uma curva crescente a cada ano, como é possível atender tal aumento no número de habitantes em um território que, muitas vezes, já não tem mais para onde crescer?

É aqui que a atuação de engenheiros, agrônomos, geocientistas e tecnólogos se mostra essencial. Cada um desses profissionais tem papel estratégico no desenvolvimento das cidades, seja na elaboração, na revisão ou na execução do plano diretor municipal. Para o Eng. Civ. Joni

Matos Incheglu, que também é conselheiro no Crea-SP, este é o grande desafio. “O principal mote hoje é estabelecer um modelo em que as pessoas não precisem se deslocar muito. Ou seja, que elas encontrem perto de suas casas e de seus trabalhos os serviços que buscam em suas rotinas. Assim, os estudos devem ser feitos para definição do plano diretor com identificação de corredores viários, de escoamento e de passagem para o crescimento de acordo com a densidade populacional, com o diferencial de transformar o espaço físico existente, sem necessariamente expandi-lo”, detalha.

Essas iniciativas fazem parte do conceito de cidades inteligentes (do inglês smart cities), que tem propósito no desenvolvimento urbano e humano, apostando em ações inclusivas para promoção do bem-estar e da coesão social, visando a preservação e melhoria do meio ambiente, o uso responsável de recursos, a absorção de impactos econômicos e climáticos e a atratividade econômica, segundo a Norma ABNT NBR ISO 37101:2017. Isto é, abrindo também novas possibilidades de mercado para os profissionais da área tecnológica.

Com esse intuito, o Crea-SP incentiva a participação nos hubs de inovação e nas atividades da plataforma do CreaLab (creasp.org.br/crealab), além de oferecer conteúdo gratuito sobre as tendências de mercado, como a publicação digital e trimestral da Revista Crea São Paulo e as notícias do portal creasp.org.br, referenciando soluções e estimulando a multidisciplinariedade do Sistema Confea/Crea para o melhor desempenho das cidades e da sociedade, de modo geral.

“Extrapolando o alcance do Conselho, as entidades de classe entram neste cenário conhecendo os mapas de calor das necessidades dos municípios em que atuam, podendo oferecer capacitação direcionada para que engenheiros, agrônomos, geocientistas e tecnólogos busquem as soluções para as demandas locais”, finaliza Incheglu.–